Em Busca do FCF Positivo: O Dilema dos Agents e Principals, Otimização e Inovação no Brasil

A jornada para encontrar o Fluxo de Caixa Livre (FCF) positivo em um ambiente de cloud computing no Brasil começou com a necessidade de entender não apenas os aspectos técnicos, mas também os desafios econômicos mais profundos. Um dos primeiros obstáculos foi compreender o dilema entre agents e principals. Sem resolver plenamente o desalinhamento de interesses entre gestores (agents) e acionistas (principals), qualquer estratégia de otimização enfrentará limitações significativas. Isso impacta diretamente na implementação de soluções eficazes, desde estratégias de hedge cambial até a adoção de abordagens cash neutral ou até fusões e aquisições para mitigar os efeitos do ambiente econômico brasileiro.

Essa é a realidade: enquanto as ferramentas de otimização, como FinOps, podem ser parte da solução, elas não funcionam isoladamente. Em um ambiente como o Brasil, onde o risco cambial e as altas taxas de juros dominam o cenário, estratégias mais complexas precisam ser adotadas, como fusões, estratégias de mitigação financeira e uma compreensão profunda das responsabilidades de longo prazo dos agentes para com os principais stakeholders.

Otimização Sem Convergência Com isso em mente, a jornada de otimização operacional começou com tentativas de encontrar o mix ideal entre VMs não gerenciadas, DBs gerenciadas, commits de longo prazo e o custo de oportunidade. Testei todas as combinações possíveis: budget flutuante, liberdade para escolher qualquer mix de commits de VMs e DBs, e até a possibilidade de desligar instâncias não commitadas. No entanto, independentemente dos ajustes realizados, o FCF nunca convergia para um valor positivo.

O impacto do risco cambial e das altas taxas de juros (10,75%) foi constante, anulando os ganhos operacionais que a otimização prometia. Esse resultado trouxe à tona a realidade de que otimização operacional, por si só, não é suficiente no Brasil. Isso foi evidente ao ajustar tudo pelo Índice de Sharpe, que revelou os limites do modelo frente aos desafios macroeconômicos locais.

O Papel do “A” e as Externalidades Positivas Na função Cobb-Douglas, o componente “A” representa o progresso tecnológico ou a eficiência exógena que impulsiona o crescimento sem depender diretamente dos insumos (como VMs e DBs). No entanto, no Brasil, esse “A” é limitado pela falta de incentivo para inovação. A tecnologia e a eficiência não evoluem naturalmente em um ambiente onde o investimento em inovação é baixo, seja por falta de incentivos governamentais ou pelo risco de que a inovação não gere retorno imediato.

As externalidades positivas desempenham um papel crucial aqui. Elas são benefícios indiretos que uma empresa ou setor gera para o restante da economia, como avanços tecnológicos ou melhorias na infraestrutura. Até mesmo os economistas da Escola de Chicago, conhecidos por seu foco no livre mercado, reconhecem que essas externalidades precisam de intervenção governamental para que o equilíbrio seja alcançado. No Brasil, a ausência de políticas públicas que incentivem P&D pode gerar um ciclo de pobreza, no qual o país não consegue impulsionar seu “A”, mantendo o crescimento econômico estagnado.

Estratégias Para Mitigar o Ambiente Econômico Brasileiro Além da necessidade de melhorar o “A” exógeno, existem estratégias que as empresas podem adotar para mitigar os efeitos do ambiente econômico brasileiro. Hedge cambial, por exemplo, pode proteger contra a volatilidade da moeda. Adoção de estratégias cash neutral pode ajudar a equilibrar o fluxo de caixa em ambientes instáveis, e fusões e aquisições podem criar sinergias que ajudem a fortalecer a posição de mercado da empresa e a reduzir custos operacionais. Essas estratégias, combinadas com a inovação, podem trazer mais resiliência em um ambiente tão desafiador.

No entanto, para que essas estratégias sejam eficazes, é essencial que haja um entendimento claro do dilema dos agents e principals. Os interesses dos gestores devem estar totalmente alinhados com os dos acionistas para garantir que o foco esteja na criação de valor a longo prazo, e não apenas em soluções de curto prazo que beneficiam o lucro imediato. Esse alinhamento é fundamental para que a implementação dessas estratégias financeiras tenha sucesso em um cenário de alto risco.

Inovação e o Fomento Interno: O Papel das Empresas Embora o governo tenha um papel fundamental em criar políticas de incentivo à inovação, as próprias empresas podem ser protagonistas na criação de ecossistemas de inovação. O movimento open source, exemplificado pelo Kubernetes, é uma prova de como a inovação tecnológica pode acontecer por meio da colaboração. Criado pela Google, o Kubernetes se tornou um padrão global para orquestração de contêineres, sendo mantido por uma comunidade global. Projetos como esse mostram que as empresas podem liderar iniciativas de inovação sem depender exclusivamente de políticas governamentais.

Ao adotar uma mentalidade de inovação aberta, as empresas podem criar incentivos internos que favoreçam o progresso tecnológico. Isso não só melhora a eficiência interna, como também cria externalidades positivas que beneficiam toda a economia. Investimentos em tecnologias disruptivas e a colaboração em projetos de código aberto são exemplos de como as empresas podem melhorar o “A” de um país, contribuindo para o progresso econômico como um todo.

Uma Reflexão sobre Inovação no Brasil A realidade no Brasil, onde P&D é tratado como despesa, e não como um ativo, cria barreiras para a inovação. Isso levanta a questão: como fomentar a inovação em um ambiente onde o risco financeiro é elevado? Para que o país escape dessa armadilha de crescimento, tanto o governo quanto as empresas precisam colaborar para criar um ambiente mais propício ao desenvolvimento tecnológico.

Enquanto o governo deve oferecer incentivos fiscais e políticas para fortalecer a pesquisa e o desenvolvimento, as empresas têm a capacidade de criar suas próprias condições para inovar. A construção de ecossistemas de inovação, o apoio ao open source e o investimento em tecnologias emergentes são formas de superar os desafios econômicos e promover um crescimento mais sustentável.

Conclusão: Um Equilíbrio entre Governos, Empresas e Inovação A jornada de otimização e análise mostrou que, no Brasil, a otimização operacional não é suficiente para gerar o FCF positivo que as empresas buscam. O país enfrenta desafios que exigem mais do que ajustes técnicos; eles pedem uma estratégia de longo prazo que envolva inovação, mitigação de riscos financeiros, e uma compreensão plena dos dilemas entre agentes e principais.

O governo tem um papel crucial na criação de incentivos, mas as empresas também podem liderar iniciativas de inovação. Projetos de código aberto, como o Kubernetes, e colaborações tecnológicas podem criar externalidades positivas que impulsionam o crescimento. No final, é a combinação de inovação interna e intervenção governamental que permitirá o aumento do “A” exógeno, promovendo progresso e um crescimento sustentável em um ambiente desafiador como o Brasil.